domingo, 13 de setembro de 2009

Intuição

Estava tão acostumado a desdenhar coisas de pouco valor material. Dessa vez desdenhei de uma bola daquelas ‘dente de leite’, que não custa mais que dois reais por aí.

Fazia nada em minha garagem, apenas andava de um lado para o outro. Não, eu não estava procurando algo, estava apenas andando mesmo. Eis que uma dessas bolas aparece na minha frente (não me lembro de ter visto antes alguma em minha casa). Não hesitei e decididamente imprimi um belo chute na pobre coitada. Foi um belo chute mesmo.

Nunca antes, em todos os meus dezessete anos de existência, me senti tão idiota por não escutar minha intuição. Eu estava atrasado para ir ao cursinho e tinha me aconselhado intimamente a sair logo de casa. Não escutei minha intuição e me demorei tempo suficiente para desdenhar aquela bola. Míope, nem me lembrei, ao menos, que estava com o óculos sobre o nariz antes de cometer aquela estupidez.

A bola acertou a parede e atravessou o ar de novo, só que desta vez em minha direção. Depois de a ter visto alguns centímetros distante do meu rosto, fechei os olhos como se fosse adiantar de algo. “Poof” e quando abri os olhos reconheci um mundo mais embaçado. Neste mundo havia dois pedaços de óculos no chão, bem perto, um corte no supercílio direito e uma bola saltitante saindo pela tangente.

Se sucederam, então, alguns dias sem enxergar a lousa, lamentos pelo meu óculos preferido, agora dividido em dois, e o desaparecimento da bola, que me ensinara a não mais desdenhar de coisas quase sem valor material e a ouvir mais a minha intuição.

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