sábado, 26 de junho de 2010

A escova nova

[say goodnight and go]

Sempre gostei de ouvir atrás da porta enquanto você escovava os dentes, antes de se deitar. Gosto do som que faz. Era 'boa noite', pra mim. E agora que você insiste em dizer que tem de ir, não posso, não mesmo, pedir para que fique. Você nunca faz boas escolhas, mas você é quem sabe, ou deveria saber. Não posso pedir para que fique.
Quando a gente faz o que você quer, seu sorriso fica maior e eu amo o seu sorriso de menta. Mentira. Eu amo seu sorriso. É, porque eu amo quando você sorri de molho de macarrão, ou de maionese do Mc Donald's, sei lá o que é aquilo. Acho que eu amo mesmo é o seu sorriso. Então façamos o que você preferir, porque eu amo o seu sorriso.
Mas, se você puder, esqueça de juntar às suas coisas, naquela mala grande que compramos pra viajar no ano passado, a sua escova de dentes. Eu sei que ela é nova, porque compramos na venda do seu Levy semana passada, mas deixe-a ali, ao lado da minha, no potinho branco, que eu acho inútil, mas que você insistiu em comprar e eu não resisti, porque eu amo o seu sorriso. Deixe-a ali, porque se você sentir saudade dela - não vai sentir - mas se sentir, eu deixo você vir escovar os dentes com ela, antes de dormir. E eu vou ficar atrás da porta. 'Boa noite'

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Doze

Cheguei à parada de ônibus às sete e dez da manhã, em ponto. De imediato notei alguma diferença. O que era? Ah, sim. A morena que troca seus olhares pelos meus todas as manhãs, não estava ali, como era habitual. Estranho. O que poderia ter acontecido? Imaginei algumas coisas, mas logo deixei aquela preocupação de lado. Estava começando a me atrasar. Não. Eu estou no mesmo horário de sempre. O ônibus atrasou, com certeza.

Ao final de aproximados vinte minutos eu já estava impaciente, mas descarreguei a tensão num suspiro, ao ver o ônibus chegar.
Sem pensar nas inúmeras maldições que havia pensado ao motorista antes que ele estacionasse o ônibus junto ao meio fio, ali, bem onde eu estava parado, subi os degraus e, mesmo sem olhar direito, desejei o rotineiro ‘bom dia’ ao motorista. Já estava distante alguns passos quando estranhei a cabeça nua do homem. Uma cabeça nua completamente desconhecida. Queria pensar a respeito, mas o fluxo atrapalhou. Fui empurrado e espremido contra a catraca. Paguei. Me dirigi ao fundo do ônibus, onde restavam ainda alguns lugares vagos. Escolhi e sentei.

O lugar que eu ocupava não era o mais próximo à janela, mas pela janela mais próxima eu observava o mundo externo. Um mundo totalmente alheio ao interior daquele coletivo. De repente, como que o ônibus havia parado em função do congestionamento, também isso estranho, percebi um relógio, daqueles que ficam nos canteiros centrais das avenidas. Certamente ele estava ali há algum tempo, já. Certamente eu já o tinha visto outras vezes, só não como aquela. Olhei a hora marcada. Algo me perturbava. Deslizei levemente a manga esquerda do casaco, a fim de conferir o relógio. O meu. Neste os ponteiros indicavam o Sete, das horas, e trinta e quatro, o dos minutos. Voltei ao do canteiro e neste um acréscimo de doze minutos. Sete e quarenta e seis minutos, portanto.

Numa fração daquele seguinte segundo tentei entender aquela confusão. Ao término da fração entendia mais. Entendi a morena, o motorista, o engarrafamento e o relógio. Eram doze minutos que o meu relógio havia esquecido de contar, não sei por que e que agora davam sentido à estranheza daquele dia que não era meu. Que nunca o fora antes. Doze minutos.

Logo percebi que não era o atraso do relógio o que me incomodava. É que do meu dia, doze minutos haviam se passado sem eu saber nem por onde, nem para onde. E de repente todos os cálculos não estarão certos. O atraso me acompanhará por todas as horas do dia e em tudo do dia. Droga. Perdi o dia, porque perdi a hora. A hora? Não, os minutos, doze deles. E mesmo assim - doze, minutos. Será que meu relógio sabe o que são doze minutos?
Hoje vai ser um dia daqueles. Daqueles!

terça-feira, 15 de junho de 2010

Outro rock

O frio sobe pelas mãos. Outra madrugada. Outro rock.
Os acordes de guitarra espancam meu corpo, arrancam toda a poluição, toda a sujeira que meu corpo capta ao longo do dia, das pessoas, dos lugares.
O frio sobe. Me esvazia.
Outra madrugada, outro rock, e frio me traz um descanso, paz.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Sinestesia





Esse perfume
de alecrim
trouxe de volta
um sonho bom

Tiê



Da cozinha vem o cheiro de chocolate. Um bolo. Bolo de chocolate, como o da vovó. Não é pelo sabor, eu amo o sabor, mas é o cheiro, o cheiro que me atrai mais. É o cheiro qual o de anos atrás, nas férias, no café da tarde, na cozinha...


É o cheiro do bolo que me anima a fazê-lo, porque o bolo em si não consegue ser o mesmo, mas o cheiro o é. É como se eu fosse a mesma criança que sentava na cadeira e o chão os pés ainda não alcançavam, a mesma criança que esperava ansiosa o bolo esfriar, pra não dar dor de barriga. Eu sou a criança.


As tardes com a vó, as conversas. É quase possível ouvir a voz, que já não me conta mais as estórias. Não, não. Faz silêncio aqui, não há férias, não há estória, há apenas um bolo de chocolate, como aqueles, pelo menos é o que o meu olfato diz. Não, eu sei, não é como aqueles... jamais farei bolo como aqueles.


...



Um comentário:


Queria agradecer mais uma vez aos leitores do blog, aos elogios e críticas. Queria agradecer em especial a Nathi do Que seja doce. pelo selinho, que eu não sei usar e até me desculpar por isso.

É isso. Até a próxima.

Abraços e tudo de bom.


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