sexta-feira, 18 de junho de 2010

Doze

Cheguei à parada de ônibus às sete e dez da manhã, em ponto. De imediato notei alguma diferença. O que era? Ah, sim. A morena que troca seus olhares pelos meus todas as manhãs, não estava ali, como era habitual. Estranho. O que poderia ter acontecido? Imaginei algumas coisas, mas logo deixei aquela preocupação de lado. Estava começando a me atrasar. Não. Eu estou no mesmo horário de sempre. O ônibus atrasou, com certeza.

Ao final de aproximados vinte minutos eu já estava impaciente, mas descarreguei a tensão num suspiro, ao ver o ônibus chegar.
Sem pensar nas inúmeras maldições que havia pensado ao motorista antes que ele estacionasse o ônibus junto ao meio fio, ali, bem onde eu estava parado, subi os degraus e, mesmo sem olhar direito, desejei o rotineiro ‘bom dia’ ao motorista. Já estava distante alguns passos quando estranhei a cabeça nua do homem. Uma cabeça nua completamente desconhecida. Queria pensar a respeito, mas o fluxo atrapalhou. Fui empurrado e espremido contra a catraca. Paguei. Me dirigi ao fundo do ônibus, onde restavam ainda alguns lugares vagos. Escolhi e sentei.

O lugar que eu ocupava não era o mais próximo à janela, mas pela janela mais próxima eu observava o mundo externo. Um mundo totalmente alheio ao interior daquele coletivo. De repente, como que o ônibus havia parado em função do congestionamento, também isso estranho, percebi um relógio, daqueles que ficam nos canteiros centrais das avenidas. Certamente ele estava ali há algum tempo, já. Certamente eu já o tinha visto outras vezes, só não como aquela. Olhei a hora marcada. Algo me perturbava. Deslizei levemente a manga esquerda do casaco, a fim de conferir o relógio. O meu. Neste os ponteiros indicavam o Sete, das horas, e trinta e quatro, o dos minutos. Voltei ao do canteiro e neste um acréscimo de doze minutos. Sete e quarenta e seis minutos, portanto.

Numa fração daquele seguinte segundo tentei entender aquela confusão. Ao término da fração entendia mais. Entendi a morena, o motorista, o engarrafamento e o relógio. Eram doze minutos que o meu relógio havia esquecido de contar, não sei por que e que agora davam sentido à estranheza daquele dia que não era meu. Que nunca o fora antes. Doze minutos.

Logo percebi que não era o atraso do relógio o que me incomodava. É que do meu dia, doze minutos haviam se passado sem eu saber nem por onde, nem para onde. E de repente todos os cálculos não estarão certos. O atraso me acompanhará por todas as horas do dia e em tudo do dia. Droga. Perdi o dia, porque perdi a hora. A hora? Não, os minutos, doze deles. E mesmo assim - doze, minutos. Será que meu relógio sabe o que são doze minutos?
Hoje vai ser um dia daqueles. Daqueles!

2 comentários:

  1. A verdade é que isso acontece sempre, e as vezes até com dias inteiros - mas não nos damos conta.

    Até que chegará um dia em que perceberemos e será tarde demais =/
    beijos, adorei esse post!

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  2. Muito bom o texto e o desenrolar. E como nos faz falta doze minutos, não? Ou até cinco deles!
    Enfim, adorei o post.
    Boa semana e bye.

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