sábado, 24 de abril de 2010

Culposo

- Alô?
- Pai, pai! Eu bati o seu carro!
- Porra, Bruno! Eu falei pra você tomar cuidado. Mas como ta?
- Ah, eu to bem, só uns arranhões...
- Ah... claro... é... mas e o carro?
- Já era, pai. PT.
- CARALHO, BRUNO. MEU CARRO NOVO!!!
- porra, pai. Eu sei. Eles vão me levar pra delegacia, você vai ter que me buscar lá.
- Seu moleque! A gente conversa depois. Onde você ta?
- Foi aqui na Cidade jardim. Onde você ta?
- Não te interessa, moleque. Vou ligar pra sua mãe, depois vou pra delegacia. Vê se não abre a boca até eu chegar – E desliga o telefone.

Na cama, Fernanda olha preocupada. Henrique anda de um lado para o outro procurando alguma coisa no celular. Encontrou. Levou o celular ao ouvido e esperou que atendessem.

- Alô?
- Regina?
- Oi. Henrique? Onde você está?
- Depois eu explico, Regina. O Bruno bateu o meu BMW, ele me ligou, está na delegacia.
- MEU DEUS! Aconteceu alguma coisa com o Bruno?
- Parece que nada grave, mas o carro já era.
- Ai, graças a Deus que não aconteceu nada!
- Como não? Meu carro novo, Regina! Esse moleque me paga... Bom, te ligo depois. Vou à delegacia agora. Beijos – E desliga outra vez.

Fernanda ainda o olhava preocupada. Agora ele se vestia, ainda sem dizer palavra. Ela, que não fazia questão, esperava que ele dissesse algo.
Quando terminou de se vestir, Henrique tirou algumas notas da carteira, contou e esticou para Fernanda, que apanhou rapidamente da mão dele e contou.

- Tem quinhentos aí. Pega mais cem para o táxi – esticou o braço com a nota.

Henrique se debruçou na cama e a beijou. Fernanda sentiu asco, mas fingiu gostar. Tinha de ser profissional. Henrique pagava bem e era cheiroso, além de ser um cliente assíduo. Era sempre bom ser simpática nesses casos.
Henrique saiu.

Alguns minutos mais tarde, na delegacia, Henrique descobriu que no acidente Bruno acabou vitimando fatalmente um casal que voltava com o filho de uma festa. A criança estava bem, mas órfã.
O fato de Bruno estar alcoolizado no momento do acidente seria um agravante penal. O fato de estar apostando racha seria outro. O fato de Dr. Henrique ser um conceituado advogado, no entanto, um atenuante.
Bruno responderia em liberdade por homicídio culposo, onde não há a intenção de matar. O casal condenado à pena de morte e o filho à prisão perpétua.
O novo BMW chegou quinze dias depois. De castigo, Bruno só dirigiria o Stilo.

9 comentários:

  1. Olá olá, acabei de ver seu blog no post da comunidade "blogueiros fracassados" e devo discordar; realmente gostei daqui.
    Dei uma olhada pelo seus contos e crônicas e também nos post pessoais, a propósito, parabéns pela Faculdade e tal.
    Sobre este post (Porque quando visitamos um blog a gente sempre comenta no último post?) é bem cômico - para não dizer trágico - e especulativamente pensante. Gostei mesmo.
    Apenas continue a escrever, mesmo sendo dificil, tem muito dom para isto.
    E bom, tchau.

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  2. Gostei da postagem. Bem escrita e bem fundamentada. Infelizmente, hoje em dia, esse tipo de impunidade acontece muito. É a realidade, de poucos, mas é.
    beijos

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  3. Preciso dizer que gostei ?
    Preciso sim, realmente gostei.

    Na medida, e com um toque de crítica.

    Só espero que você não tenha batido nenhum carro.

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  4. É bom vê-lo de volta! :))

    Texto intrigante e tão trágico que chega à ser cômico.
    Vc tem um dom e espero poder lê-lo novamente, em breve. ;)

    Não suma!!

    =*

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  5. Seria até engraçado se não fosse tão.."verdade"
    =/
    Você podia postar mais vezes, né?
    TIPO EU
    hahaha
    beijos

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  6. Oie!
    Tem selinho para vc no meu blog. =)

    =*

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  7. Enquanto isso, BMW recuperada, vidas perdidas. Literalmente, como a do casal e a do pequeno novo órfão, e também a do culpado. Nunca aprenderá o sentido das coisas, nesse mundo tão non-sense em que vive. Sua postagem é tão real que dá medo.

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  8. Cara, muito bom o texto. Adorei como você contou a história com diálogos, e frase final ficou muito boa tb.

    =)

    bjo, bjo, bjo...

    ps.: to meio sumida do escape.. meio sem tempo, mas pode deixar deixar q voltarei a comentar sempre. :P

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  9. Nossa, Vinícius! Perfeito! Um soco no estômago! O pior é que noticiamos casos assim quase todos os dias...

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